terça-feira, 4 de março de 2008

A DEMOCRATIZAÇÃO DA FOTOGRAFIA

Zelman Sirota é um emigrante russo, que poderíamos chamar de retratista, pois em seu laboratório no Rio de Janeiro se especializou em retocar retratos. Usava técnicas desenvolvidas por ele mesmo e chegava a pintar direto nos negativos, tive o prazer de ver e acompanhar seu trabalho quando ele já contava com mais de 80 anos e me contratou para lhe ensinar a usar os computadores, na época micros da linha Amiga, que já não existem mais no mercado desde 1994, mas eram o máximo em tecnologia no final dos anos 80, quando tive o prazer de conviver com este gênio das fotos.

Não sei se ele aprendeu a usar os computadores como queria, perdemos o contato faz algum tempo e já o procurei na Internet, mas apenas acho algumas reportagens citando sua genialidade em lidar com as fotos, que costuma-se chamar - erradamente - de analógicas, mas isso é uma discussão para outro(s) texto(s).

Lembrei de Sirota ao escrever estas linhas, justamente porque, mesmo sendo um gênio da fotografia em filme, foi um dos primeiros a entender que a fotografia digital seria um avanço nesta atividade e não um retrocesso, como vaticinaram - e ainda choramingam - uns e outros inconformados, que acham que só o que pertence ao passado é bom.

A fotografia digital veio pra ficar e nem há porque discutir mais esta questão, mesmo porque nada impede que aqueles que preferem o velho modelo, continuem a exercer sua arte, ficou mais caro e mais difícil, mas isso não deve ser problema para Sebastião Salgado, um dos mais expoentes representantes da velha geração de fotógrafos.

Aliás, o que sempre impediu de existirem mais pessoas como o Sebastião Salgado sempre foi o alto custo de um filme, da revelação e das próprias câmeras.

Sempre fui um apaixonado por fotografia, mas somente lá para os 14 anos consegui colocar minhas mãos em uma máquina Xereta da Kodak, mas quem disse que eu tinha dinheiro para comprar ou mandar revelar os filmes?

Aos 18 consegui comprar minha primeira câmera decente, lembro até da marca e referência, era uma Olympus Pen EE, que duplicava o negativo e a razão da escolha era simples: economia, mas o que economizava em filmes, gastava em revelação, não houve muito lucro.

Mesmo assim, na primeira oportunidade comprei uma outra Olympu3s que além de duplicar permitia intercâmbio de lentes, uma maravilha, mas se tirei um milhar de fotos foi muito, não creio que chegou a isso, Pelé certamente fez mais gols do que as fotos que tirei nesta época. Mantive esta máquina até 2008, quando a dei de presente para Amanda, uma mocinha de 17 anos, filha da minha companheira, provavelmente nem irá usar mas ficou deslumbrada quando a viu e lhe dei de presente, assim saberá - ao menos - como eram as câmeras antigas, duvido que eu mesmo fosse utiliza-la mais, algum dia.

Minha primeira digital era uma tristeza, outra Kodak que nem lembro o modelo e que permitia tirar mirradas 4 fotos em resolução de 320x200, algo meio lamentável e que fez muita gente desacreditar da fotografia digital, realmente não dava pra botar fé na qualidade das fotos tiradas por este tipo de máquina.

Logo em seguida consegui colocar as mãos numa maravilhosa Mavica, que permitia - vejam só - gravar as fotos em um disquete de 3 1/2 e facilitava em muito o trabalho de passar para o computador, já que naquela época (mais ou menos 1995) uma conexão USB ainda era novidade na maioria dos computadores.

Peço desculpas pelo enorme prólogo, antes de entrar no assunto do título, mas eu queria deixar claro que não fiz apenas uma pesquisa na Internet para falar deste assunto, vivi uma realidade e tenho agora o privilégio de viver outra.

Outro dia vi um garoto de apenas 4 anos tirando fotos como gente grande, ele provavelmente nem sabe escrever ainda, mas já sabe tirar fotos, fiquei olhando para aquilo e pensando nas possibilidades de se tornar um futuro Sebastião Salgado, alguém capaz de congelar momentos especiais por onde andar.

Por falar em Salgado, a reportagem fotográfica assumiu outra dimensão com as modernas câmeras digitais, ainda num sábado próximo uma fotógrafa da Câmara Municipal tirou uma foto minha e deveria aparecer na tela de um notebook um dos meus trabalhos, a caricatura a partir de fotos digitais, duvidei que a imagem tivesse sido corretamente captada e fui conferir... estava lá, nítida, a tela do computador e tudo mais
que precisava aparecer na foto.

Com equipamentos assim é possível um reporter fotógrafico enviar sua imagem quase que imediatamente para a redação de um jornal ou revista, com qualidade excepcional, sem contar que as câmeras modernas tem recursos nunca antes imaginados e permitem fotos perfeitas nas piores condições.

Com esta facilidade quase todo mundo está se apaixonando pela fotografia, os jovens andam com seus celulares e registram tudo, acompanho a vida de meus 20 e tantos sobrinhos apenas observando suas páginas no Orkut, tá tudo lá, cada lugar que eles vão são montes de fotos.

O avanço da tecnologia também permite que estas fotos sejam trabalhadas de várias formas com a manipulação digital, permitindo que surjam novos talentos, quem sabe vários Andy Warhol, novos Picassos e até mesmo um Van Gogh, embora nenhum destes nomes tenha muito a ver com fotografia, mas são artistas que não aceitaram a arte como ela era imposta, criaram seus próprios caminhos.

E é isso que a fotografia digital está fazendo, permitindo que as pessoas escolham seus caminhos, que dominem uma arte que já foi privilégio de uns poucos, com mais recursos.

A democratização acontece porque a câmera digital está ao alcance de praticamente qualquer pessoa, já inclusive promovi campanhas para que as pessoas esvaziem seus armários e gavetas de câmeras velhas e as doem a entidades ligadas ao desenvolvimento social, para permitir que os menos favorecidos possam ter acesso a esta tecnologia, primeiro passo para a abertura de um mundo novo e até mesmo de uma profissão.

Em 2005 tentei desenvolver um projeto na ilha de Paquetá, RJ, onde eu vivia. Como é um local turístico quis pegar as crianças da ilha e transformá-los em fotógrafos mirins, mas encontrei muita resistência, inclusive de pessoas que não entendiam que para eles não seria um trabalho e sim uma diversão. Felizmente não eram todos e encontrei até mesmo um fotógrafo local que dava as crianças curso gratuíto de fotografia, mas usando câmeras tradicionais.

Depois tentei o mesmo em Campo Grande, MS e até obtive algum apoio das autoridades locais, mas o apoio não se traduziu em fatos e este tipo de trabalho não tem muita utilidade se não houver quem dê continuidade, não adianta apenas eu acenar para um garoto muito pobre com o manuseio de uma câmera digital se este trabalho não tiver continuidade.

Mas vamos voltar a questão da democratização com aqueles que já puderam comprar sua câmera, especialmente aquele garotinho de 4 anos, que tive o prazer de ver manipular uma cãmera com a maior desenvoltura.

A foto digital não termina no click e no envio para um computador, na verdade é aí que a diversão começa pois as possibilidades começam a ficar infinitas quando descobrimos programas como o Picasa 2, que é absolutamente gratuito e fornecido pelo gigante Google.

Além de permitir que qualquer um - sim, QUALQUER UM - mesmo sem conhecimentos de uso de programas gráficos manipular e corrigir fotos, o Picasa ainda permite que se envie as fotos para a web ou se grave um CD/DVD para que elas possam ser vistas diretamente na TV. É um programa fantástico.

Mas não vou me estender sobre o Picasa agora, apenas digo que é um programa essencial, basta baixar no seu site favorito de download ou pesquisar no próprio Google.

A fotografia é uma das mais empolgantes formas de arte, pois ela não exige que a pessoa tenha um talento nato, como o de desenhar e tampouco exige grande dedicação para ser aprendida, o "olhar fotográfico" é algo que se pode adquirir com o tempo e as técnicas de fotografar estão ao alcance de qualquer um que resolva dedicar algum tempo a este emocionante hobby.

E as câmeras evoluíram muito, até mesmo aquelas vendidas pela televisão e onde o apresentador mente, dizendo que não precisam nem de computador, já estão em um nível de qualidade excelente, que permite a revelação com qualidade.

As câmeras de celulares também estão evoluindo muito e já alcançaram o patamar do megapixel, que é essencial para um minimo de qualidade nos resultados.

E nem toquei ainda no assunto FILMAR, com as câmeras atuais qualquer um pode se candidatar a ser um Spielberg e mostrar seu talento ao mundo, usando principalmente sistemas como o You Tube, um dos maiores sucessos de mídia dos tempos modernos e que ainda vai surpreender muita gente.

Então... você ainda não tem a sua? Ou tem e não prestou muita atenção ao que ela permite fazer?

Por enquanto é só, esta é minha primeira participação neste veículo e para o público de Ribeirão Preto, cidade onde vivi minha infância e para onde retorno, após 30 anos viajando por aí e fotografando muito.