terça-feira, 20 de maio de 2008

HISTÓRIA DA INFORMÁTICA NO BRASIL - PARTE I

Tenho comentado sobre tecnologia de ponta, novos programas, novos sistemas, foto digital e as maravilhas da Internet.

É um prazer ver todas estas conquistas em pleno funcionamento e ainda hoje lia uma nota em uma lista de discussão, onde alguém comentava que as empresas que prestam serviços de Internet no Brasil tem "pisado na bola", oferecendo falsos serviços ou velocidades reduzidas de banda larga, embora tenham vendido lebre por tartaruga.

Alguém comentou: "pior quando era apenas linha discada".

É verdade. Em 1994, quando a Internet dava os primeiros sinais de vida no Brasil, a linha telefônica era um terror, praticamente era impossível conseguir o sinal de linha, os telefones eram caros e não estavam disponíveis, conseguir conexão e ganhar na loteria eram praticamente situações equivalentes naqueles tempos, nada dourados.

E antes mesmo da Internet ser uma realidade já haviam serviços similares, chamados BBS, (Boletim Board System) e ainda antes havia o Video Texto.

Mas se voltarmos ainda mais no tempo, teremos computadores que não usavam disco rígido e os arquivos tinham que ser gravados em caríssimos sistemas de fita magnética ou em simples fitas k7 (produto que praticamente não existe mais).

Um simples programinha levava - em média - uns 10 minutos para ser carregado no computador e isso quando o usuário tinha sorte e não ocorria um erro de carregamento ao final do processo.

Pelo menos uma vez vi um usuário de computador jogar tudo pela janela do prédio, de raiva de não conseguir usar seu caríssimo TRS-80, que pretendia usar para projetos de arquitetura. Além de perder o micro foi multado pelo condomínio.

Isso foi por volta de 1980, quando comecei a conhecer os computadores, eles já existiam antes mas ainda não tinham realmente entrado no Brasil, inclusive porque uma equivocada lei do Regime Militar tinha definido regras confusas para permitir a importação de computadores, a chamada lei de Reserva de Mercado, que realmente reservava o mercado para alguns privilegiados e custou ao Brasil um atraso de pelo menos 10 anos em relação ao desenvolvimento de informática em nosso país.

OS COMPUTADORES

Vamos esquecer leis e legisladores e tratar dos computadores em si.

Começo a história por volta de 1980, sendo que não é exatamente a data do início da informática no Brasil, mas é a data em que comecei a entender o que eram e o que faziam os computadores.

O primeiro computador de muita gente desta geração foi um aparelho que absolutamente não inspirava confiança, mesmo porque para se ter um era preciso ter conhecimentos de eletrônica e comprar um kit para monta-lo.

Estou falando do ZX0-80, baseado no processador Motorola Z-80 e utilizando um sistema operacional criado por Sir Clives Sinclair, que na época ainda não tinha recebido o título. O título de cavaleiro (Sir) foi oferecido justamente pela sua contribuição com o mundo da Informática, quando criou o primeiro computador pessoal que custava o equivalente a 100 dólares.

A criação de Sir Clives acabou sendo conhecida no Brasil pelos nomes de seus clones locais, chamados TK 80/81/82/82c/85/90 e 90x.

TK era abreviatura dos nomes dos proprietários da empresa Microdigital, que se tornou famosa por fabricar estes pequenos micros. A empresa Prológica também entrou neste segmento e fabricou sua versão - também clonada - chamado CP 200. Um outro fabricante também quis entrar neste mercado e criou o clone mais sofisticado da linha ZX, chamado de Ringo.

O Ringo era o melhor clone do ZX, mas a empresa que o fabricava optou por uma abordagem diferente e achando que poderia criar seu próprio mercado não tornou o Ringo completamente compatível com as versões anteriores e esta versão acabou ficando apenas como referência na história.

Na época uma das mais famosas revistas de computador, a Micro Sistemas, começou a publicar programas e informações sobre os micros criados por Sinclair, tanto que ao invés de assumir um dos diversos clones. preferiu assumir que todos pertenciam a linha ZX, ou seja, o micro original.

Os micros da linha Sinclair fizeram bastante sucesso no Brasil, especialmente para uso doméstico mas sua era terminou com a chegada de uma nova linha, resultado da união de diversos fabricantes que pretendiam criar um padrão mundial.

Uma das razões dos micros da linha Sinclair não se tornarem ainda mais populares foi a falta de software produzido no Brasil, quase tudo que existia era em inglês e eram raros os programas que podiam ser utilizados comercialmente. Este escrevinhador foi um dos poucos que desenvolveram programas em português e exclusivos para esta linha de micro. Minha parca contribuição foram 4 jogos, que apesar do sucesso de público teve um sucesso comercial bastante limitado.

E ao mesmo tempo, despontava no mercado os computadores da linha MSX, bastante sofisticados para aquela época, com excelentes recursos de som, capacidade de cor e uma razoável coleção de programas, inclusive para uso comercial.

o MSX teve apenas dois fabricantes no Brasil, a Gradiente e a Sharp, mas por estas razões que ninguém sabe explicar não eram totalmente compatíveis entre si e para complicar ainda mais não eram totalmente compatíveis com o padrão mundial, ou seja... os fabricantes nacionais conseguiram a proeza de fazer máquinas diferentes de uma linha que pretendia ser padrão.

Apesar da reserva de mercado, quando o MSX foi lançado já havia outros computadores disponíveis no Brasil, a maioria da linha PC, alguns da linha Apple, outros da linha TRS e alguns que só existiram no Brasil, compatíveis apenas com eles mesmos, como o MC 1000, fabricado pela CCE e esquecido em seguida, para desespero de quem o comprou.

OS VENCEDORES

Os micros da linha PC já demonstravam que iriam dominar o mercado, apesar de na época só existirem os 286/386 estes eram poderosos no quesito software, onde estavam sempre um passo a frente dos demais.

Paralelamente ao PC já despontava o Macintosh, a menina dos olhos da Apple, mas ainda custando preços impossíveis para o alcance da grande maioria, por atender melhor as capacidades gráficas ficou conhecido como o computador dos fotógrafos ou artistas digitais, era raro encontrar um Macintosh em um escritório, fazendo trabalho burocrático.

E correndo por fora, surgia, em 1985, a linha Amiga, uma espécie de supercomputador quando comparado com seus similares. O Amiga só começou efetivamente a ser fabricado no Brasil por volta de 1990, quando a PCI decidiu que o mercado brasileiro estaria preparado para este computador e infelizmente a Commodore, seu fabricante original faliu em 1994, deixando orfãos os usuários deste micro.

Assim como o PC era conhecido como o micro das empresas, o Macintosh o do pessoal de fotografia e imagens, o Amiga ficou conhecido como o computador ideal para tratamento de som e de video.

Mas chegou um momento em que o PC evoluiu e começou a assumir liderança em todos os campos.

Vamos falar disso no próximo capítulo desta saga.

Mais detalhes, perguntas ou sugestões a respeito deste tema serão bem vindos na lista criada para esta coluna.