terça-feira, 26 de agosto de 2008

Um garoto chamado Felipe

Em 2005 este escriba decidiu levar adiante um empreendimento, tratava-se de uma idéia antiga e senti que era o momento de concretizá-la. O momento não tinha chegado e não foi daquela vez, mas por 8 longos meses dediquei todo meu tempo ao Infobirô, uma espécie de local multimídia, onde várias atividades relacionadas com a informática deveriam tomar rumo, especialmente a de ensinar e ensinar a quem precisa.

O Infobirô foi criado na ilha de Paquetá, um local paradisíaco no Rio de Janeiro, mas sob o manto da beleza e da tranqüilidade se esconde uma tristeza, que se reflete nos olhos dos meninos que moram na ilha.

A maioria deles tem como maior objetivo na vida se tornar ou cocheiro ou gari e mais recentemente sonham em poder trabalhar para um sujeito que implantou o uso de bicicletas de transporte de passageiros na ilha, uma espécie de riquixá que chama de eco-táxi.

Quando cheguei lá e montei o Infobirô sonhava em dar aulas para os garotos, ensiná-los a usar computadores ou câmeras digitais e enquanto preparava a estrutura para realizar este sonho conheci o Felipe.

Desde meu primeiro dia na Ilha ele estava lá, olhando algumas fotos da inauguração do lugar lá está a cabecinha dele, com um sorriso franco e a careca inconfundível de um menino negro, de apenas 11 anos e que – queira Deus – terá um futuro diferente.

A mãe trabalhava como doméstica, ficava fora da ilha o dia inteiro e quando Felipe saia da escola ficava perambulando pelas ruas, até altas horas, quando a mãe voltava, provavelmente moída de tanto trabalhar, mesmo assim ela tinha o mesmo sorriso do filho.

Eu a conheci quando a chamei para autorizar que eu desse aulas gratuitas para o menino, como o Infobirô era mais conhecido justamente pela sua atividade menor (Lan House) nem sempre as pessoas sabiam o objetivo do lugar.

Escolhi o Felipe não por ser pobre ou negro, na verdade ele que se auto-escolheu quando fez uma redação que foi premiada em um concurso da prefeitura. A redação chegou a minhas mãos e fiquei surpreso com as idéias que um garoto de apenas 11 anos, que nunca teve um computador, tinha a respeito da informática e da Internet.

Pedi para conhecer o autor e quando tive a oportunidade, perguntei de onde tinha tirado aquelas idéias e ele respondeu que eu tinha falado para ele.

Realmente, dei uma palestra na ilha logo que inaugurei meu estabelecimento e lembrei que ele estava na primeira fila, fazendo muitas perguntas, mas nem eu mesmo lembrava do que tinha falado. Foi muito bom constatar que pelo menos uma almazinha tinha me ouvido e entendido.

Foi engraçado começar a dar aulas para o Felipe, comecei devagar, pedindo que ele digitasse em um programa que ensina a posicionar os dedos corretamente no teclado. É um programa bem simples, que deve ser usado em média 15 minutos por dia e permite aprender a digitar corretamente.

Tinha que mandar o Felipe parar, ou ele ficaria horas digitando. Enquanto os garotos que os pais pagavam, não queriam ficar nem 5 minutos.

Comecei a lhe ensinar a usar o Photoshop, ele gostava de desenhar, então pensei em lhe dar algumas noções, eu mesmo, que me considero desenhista profissional, tinha levado algumas semanas para aprender o básico do Photoshop.

Felipe aprendeu o básico em uma tarde e o resto aprendeu sozinho, foram poucas as vezes em que veio me perguntar algo.

Do Photoshop resolvi apelar e passei para o Corel Draw, imaginando que ele ia se atrapalhar com conceitos de desenho vetorial.

Qual nada, menos de um mês depois de eu lhe ensinar os comandos iniciais o Felipe já fazia cartazes para os comerciantes locais e convites para os amigos.

E foi assim com tudo, lhe dava alguns conceitos do que é um website e no dia seguinte ele estava montando um sozinho, cometendo erros mas corrigindo praticamente sozinho.

Decidi parar de atrapalhar e disse a ele que podia escolher o que queria fazer e se tivesse dúvidas que me perguntasse.

Word e Excell ele tirou de letra, Powerpoint parece que ele já conhecia antes de eu mostrar para o que servia e só se atrapalhou um pouco com banco de dados, mas até eu me enrolo com banco de dados até hoje.

Dei um curso de caricaturas, usando o Photoshop, e inscrevi o Felipe, que teve o melhor aproveitamento da turma, ao final do curso me surpreendi com ele ensinando os outros.

E em breve o Felipe virou professor, as crianças não queriam que eu as ensinasse a usar o MSN ou similares, preferiam o Felipe, que falava a linguagem deles e ensinava direitinho.

Eu tinha um jornalzinho de informática, que publicava em papel e o Felipe perguntou se escrevesse uma carta para o jornal se eu publicaria. Disse a ele que podia escrever uma coluna se quisesse e deixei com ele mesmo a escolha do tema. E para incentiva-lo, publiquei a sua redação vencedora.

Não é que escreveu direitinho, como gente grande, com os pontos e vírgulas no lugar e um texto tão contundente quanto a redação que fez minha atenção despertar para seu potencial. Ele ganhou uma coluna fixa.

Tentei reproduzir o fenômeno com outros meninos e meninas da ilha, mas todos – sem exceção – desistiam praticamente antes de começar, isso me fez concluir que Felipe é especial, tive pouco a ver com seu crescimento, basicamente apenas lhe dei a oportunidade.

Com o fechamento do negócio tive que deixar a ilha e preocupado com o futuro do Felipe pensei em doar um computador a ele, como o negócio tinha fracassado estava sem recursos mas um computador velho não ia me fazer falta. Não é que roubaram o tal computador. Saí do lugar sem remorsos ou ressentimentos mas com lágrimas nos olhos, apenas pelo futuro do Felipe.

Futuro que ele vai conquistar de qualquer jeito, da última vez que conversamos pelo MSN ele me disse que tinha sido contratado pela biblioteca da Ilha e que lá tem computadores, onde ele continua a dar aulas para as crianças e ainda ganha uns trocados cuidando desta área da biblioteca.

Ele está agora com apenas 14 anos e já está conquistando seu futuro, exatamente o que dizia que ia conquistar na tal redação, onde dizia que queria aprender informática para poder ensinar a outras crianças.

Lembrei do Felipe porque li a reportagem principal da última Veja, que informa sobre a situação caótica da educação no Brasil, com pais, professores e alunos enganando a si mesmos e se formando no primeiro grau sem sequer saber escrever direito.

Felipe não tinha nada, estava em um ambiente ruim, em situação ruim e soube fazer prevalecer sua força de vontade. Soube que ele ficou em vigésimo lugar na ultima seleção do soletrando e que chorou muito por não ter conseguido, foi uma pena pois ele ia se sair muito bem. Espero que tenha melhor sorte na próxima edição do programa, mas mesmo que não ganhe este empurrão ele continuará a ser a exceção dessa terrível regra que assola este país.

A você Felipe, meus parabéns, siga em frente e mostre como se faz.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

História da Informática no Brasil - Parte 5B

O INCRÍVEL SINCLAIR – Parte 2

Continuação do texto sobre Sir Clives Sinclair, (http://en.wikipedia.org/wiki/Clive_Sinclair) e como sua invenção influenciou a vida de muitos brasileiros.

No texto anterior, foi informado como o Tio Clive criou um dos mais eficientes, baratos e interessantes computadores da história da informática. Este fantástico micrinho chegou ao Brasil inicialmente através de hobbystas de eletrônica, que compravam os componentes do computador em separado, montavam a placa e adicionavam uma ROM contendo o SO (Sistema Operacional) criado por Sinclair.

Foram poucos os que tiveram condições de montar o micrinho e fazê-lo funcionar, mas atentos ao interesse do público a empresa Microdigital decidiu montar o experimento em forma de produto e lançou no mercado – com grande sucesso – sua primeira versão do computador, cujas futuras versões passaram a ser conhecidas por linha Sinclair. Outra empresa, também fabricante de computadores entendeu que era um mercado promissor e lançou sua versão.

Assim surgiram o TK-80c e o CP-200, que tinham aparência bem diferente, mas eram compatíveis e rodavam todos os programas compatíveis com o ZX80 que era a versão original do primeiro micro criado pela Sinclair Research, a empresa do Tio Clive.

Os micros Sinclair originais tiveram diversas outras versões e foram recebendo complementos, a última versão conhecida foi o micro Spectrum, que teve vários modelos antes de ser substituído por outro tipo de computador, o Quantum, logo após a venda da Sinclair Research, que já se encontrava quase a beira da falência, o talento do Tio Clive era para criar e não para vender ou administrar, faltou a ele a parceria com alguém com o talento de Bill Gates e se houvesse tal parceria pode ser que hoje todo mundo tivesse um micrinho da linha Sinclair, ao invés destes monstrengos que ainda usamos.

Uma das razões da empresa de Tio Clive não dar certo foi justamente o fato de sua criação ser tão fácil de copiar.

No Brasil, a Microdigital transformou o TK em seu maior sucesso de vendas e explorou os micros durante muito tempo, em várias versões, que apresentava ao público como se fosse criação da empresa, mas não passavam de clones, o TK80 chegou até a versão TK85, quando foi substituído pelo TK90, que correspondia ao Spectrum inglês e tinha imagem a cores, maior capacidade de memória e muitos periféricos interessantes, inclusive digitalizadores, impressora térmica, disco rígido e outros acessórios poderosos para a aparência tão simples do computador, que sempre foi muito pequeno, com mais ou menos metade do tamanho de um notebook atual.

A Prológica não deu tanta atenção a linha Sinclair e se dedicou a clonar outros tipos de computadores e pelo menos mais uma empresa chegou a se destacar no mercado fazendo um clone que tinha características diferentes, era a Ritas do Brasil, originalmente uma fábrica de botões e que resolveu atuar no ramo da informática.

O computador da Ritas chamava-se Ringo e apesar de ser compatível com os programas dos micros da linha Sinclair trazia algumas inovações nos conectores que o tornavam incompatível com o hardware já existente.

Foi justamente esta meia-compatibilidade que tornou o Ringo um fiasco no mercado, pois tecnicamente era superior aos outros modelos vendidos no Brasil, com um teclado mais eficiente e periféricos de última geração, mas a Ritas falhou ao pensar que poderia ser melhor que o próprio criador da linha.

DIREITOS AUTORAIS

Tanto a Microdigital, a Prológica ou a Ritas, jamais pagaram – pelo menos oficialmente – direitos autorais a Clive Sinclair ou a sua empresa.

Alegavam que não estavam copiando o micro e mesmo após a empresa de Tio Clive abrir processo contra os clones brasileiros não foi possível ganhar e ficou famosa a sentença do juiz que julgou o caso e afirmou que os Sistemas Operacionais não eram o mesmo.

Verdade... tanto a Microdigital quanto a Ritas acrescentaram linhas de código ao SO original e certamente não eram idênticos, mas bastaria considerar que mais de 90% do código era idêntico para que a justiça fosse feita.

Mas não foi, os micros continuaram a ser fabricados livremente no Brasil e dizem as lendas urbanas, que foi feito um acordo secreto entre as empresas e os advogados do Tio Clive e tendo ficados todos satisfeitos o micrinho poderia continuar a ser fabricado por aqui.

A Microdigital explorou a linha por muito tempo, mas com a falência da empresa original não havia evolução e – aos poucos – o fantástico micrinho do Tio Clive foi sendo substituído por outras inovações tecnológicas, especialmente os micros da linha MSX, que acabou se transformando numa febre mundial.

SOFTWARE E CRIADORES

Havia muitos programas para os micros da linha Sinclair, poucos criados no Brasil mas é com o orgulho de quem criou parte destes programas que posso afirmar que foram poucos e bons.

Havia programas incríveis para este pequeno computador, que iam dos muito procurados jogos até fantásticos aplicativos, que não deixavam a desejar para os Office da vida que temos que aturar nos dias de hoje e que consomem toneladas de gigabytes. A diferença é que os programas da linha Sinclair usavam poucos bytes, eram normalmente criados em linguagem de máquina e ocupavam espaços minimalistas e nem por isso deixavam de fazer o essencial.

Editores de texto tinham quase todos os recursos que um Word oferece, assim como Bancos de dados e Planilhas e os jogos aproveitavam incrivelmente os recursos do processador.

Verdade que os jogos da linha anterior ao Spectrum exigiam muita imaginação do jogador para entender que um simples asterisco virava uma nave espacial, mas mesmo esta linha contou com um redefinidor de caracteres capaz de transformar mesmo um asterisco no Tie Fighter de Darth Vader.

Os jogos criados por este escrevinhador foram desta fase, o mais popular deles, chamado Cavernas de Marte, tinha como personagens um A que fazia as vezes de um astronauta, um asterisco que fazia as vezes de uma aranha gigante de marte.

E tinha os adventures de texto, o mais famoso deles começou como um projeto pioneiro na revista Micro Sistemas e foi o primeiro jogo em português, criado, produzido e publicado numa revista, chamava-se Aventuras na Selva e posteriormente versões deste jogo, com o nome Amazônia foram criadas para praticamente todos os micros que foram produzidos no Brasil, sempre pelo criador original, Renato Degiovani, com o qual me orgulho de ter aprendido muito pois era meu ídolo na época e atualmente um grande amigo, ainda envolvido com a produção de jogos, mas só nos intervalos em que cuida da netinha.

Nem Renato nem este escriba chegamos a ganhar algum dinheiro com a produção de jogos ou programas nesta fase da informática brasileira e infelizmente os tantos outros excelentes profissionais que também se arriscaram no difícil mercado do software tiveram o mesmo destino.

Mas se alguém quiser fazer uma pesquisa e procurar na diretoria das maiores empresas de informática da atualidade ou entre os mestres da informática de hoje pode ter certeza que usaram, em sua infância ou juventude um micro da linha Sinclair e nove entre dez deles vão dizer que começaram a se interessar pela informática por conta deste computador.

Já o Tio Clive vai muito bem, obrigado, ao vender sua empresa assinou um contrato onde ficou proibido de criar outros micros, mas não fica impedido de criar, sendo assim lida ainda com novidades, gosta especialmente de criar robots, como sempre ele está a frente dos demais e recebeu o título de Sir, uma das maiores honrarias de seu país, justamente pela contribuição que deu a humanidade com sua criação.

Em nome de todos os brasileiros – eu inclusive - que foram iniciados na informática por este fantástico computador agradeço a Sir Clive Sinclair, que carinhosamente chamei de tio nestes parágrafos e ao mesmo tempo peço desculpas por não terem adequadamente pago o que seu feito valia.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

História da Informática no Brasil - Parte 5A

O INCRÍVEL SINCLAIR

Sir Clives Sinclair, um inglês nascido em 30 de Julho de 1940, deixou seu nome várias vezes na história da tecnologia.

Mas o que teria um inglês a ver com a História da Informática no Brasil?

Muito, pois foi com uma das invenções desta espécie de Professor Pardal que muitos dos brasileiros começaram sua história na informática.

Eu sou um deles.

Desde que me lembro por gente eu ouvia falar nos “cérebros eletrônicos” que depois passaram a se chamar computadores e mais tarde computadores pessoais.

Conforme já falei, tenho a mesma idade que Bill Gates e ao ler sua biografia descobri que tínhamos muita coisa em comum mas aos 12 anos ele teve contato com seu primeiro computador, um equipamento de 50 mil dólares que praticamente só ele e Paul Allen (o cérebro informata por trás do cérebro marqueteiro do Bill) tiveram interesse em usar.

Não que se eu tivesse acesso a um equipamento do tipo aos meus 12 anos eu iria me tornar um Bill Gates, mas com certeza teria conquistado algumas coisas a mais.
Só que com mais de 20 eu ainda não tinha sequer visto um computador na minha frente, na verdade já tinha sim, afinal vídeo- games são uma espécie de computador, mas nem disso eu sabia.

Até que por obra do destino, um computador acabou caindo em minhas mãos, justamente o Timex Sinclar 1000, a versão norte-americana de uma das obras mais fantásticas do Tio Clive (eu chamo ele de Tio sim, se me permitem ).

Sinclair não inventou o computador, mas podemos dizer que o reinventou, pois fez um dos mais enxutos, funcionais e baratos computadores de todos os tempos, uma pequena maravilha tecnológica que custava apenas 100 dólares, um preço realmente absurdo (muito barato) para a época em que foi lançado, ou seja, no início dos anos 80, na verdade um pouco antes.

O ZX81

Baseado no micro processador Z80 (que atualmente desempenha funções bem menos nobres) seu pequeno computador fazia milagres, era possível rodar programas tais como editores de texto, planilhas, banco de dados e jogos – muitos jogos – em apenas 16 Kb de memória, algo que nos dias de hoje deve parecer absurdo a quem costuma lidar com terabytes de memória e acha pouco.

Na verdade, o primeiro micro do Tio Clive tinha meros 2 kb de memória e decididamente não dava para fazer muita coisa com ele nesta situação, mas bastava adicionar absurdos (em todos os sentidos) 14 kb a mais e pronto já tínhamos um microcomputador pra ninguém botar defeito.

Para que se tenha uma idéia do que isso significava, um PC gasta 16 Kb apenas para se escrever uma palavra de 1600 letras, ou seja, menos que este texto inteiro e paradoxalmente eu poderia escrever este mesmo texto naquele micro e provavelmente o faria mais rápido.

A bem da verdade a pequena maravilha criada pelo Tio Sinclair só ficou realmente bom quando pode contar com absurdos 48 Kb de memória, através de mais uma expansão de 32 kb, ai ele extrapolava, mas ainda assim, 48 Kb também teriam sido gastos em um PC para escrever este único texto, na verdade no PC e em qualquer outro micro atual, se gastaria o mesmo.

Apenas a título de comparação, o Windows Vista precisa de 512 Mb de memória apenas para rodar seu SO, o SO do ZX81 e de seus predecessores cabia em meros 256 kb e já vinha embutido no hardware, não tinha que carregar nada, ligou na tomada e o prompt (cursor) inconfundível do ZX81 piscava na tela da TV.

Isso mesmo, na TV. Os micros do Tio Sinclair funcionavam em uma simples TV preto e branco e usavam um gravador K7 comum (coisa que a garotada da era MP3 nem deve saber o que é) para armazenar os programas.

Tio Clive foi de uma genialidade impar ao criar este micro, o SO era enxuto, eficiente e a única falha que poderíamos atribuir ao mesmo era a dificuldade de gravar e reproduzir os arquivos no K7, era preciso muita paciência, mas isso só ocorreu nos primeiros modelos e até para este havia soluções milagrosas que envolviam coisas que ditas nos dias de hoje não fariam sentido, tal como “regular o azimute”.

Eu explico...

Todo gravador K7 tinha um parafuso que permitia ajustar a posição do cabeçote magnético em relação ao centro horizontal da fita K7. A esta delicada relação se dava o nome de azimute, que se procurarem no dicionário, os mais curiosos vão saber o que significa. A regulagem do azimute era justamente fazer com que o centro do cabeçote ficasse perfeito em relação a gravação magnética na fita K7.

Isso era feito “de ouvido” quando mais agudo o som, melhor a qualidade da gravação.

Tio Clive não parou no ZX81, foi criando outros e outros micros mas como qualquer sonhador voou longe demais e quase acabou com a fortuna da família, suas empresas foram a falência e teve que vende-las, mesmo tendo criado um dos melhores computadores de todos os tempos.

Tio Clive está ainda em plena atividade (longa vida e sucesso a este homem excepcional) e talvez ainda surpreenda o mundo com mais criações, o sonho dele é fazer robots que tenham alguma utilidade prática para o homem comum e não duvido que seja ele o primeiro a conseguir isso.

MAS VAMOS FALAR DE BRASIL

Me perdoem, mas quando começo a falar de um assunto tão interessante é impossível não divagar e por isso mesmo tenho poucos e fiéis leitores, em tempos de textos curtos e concisos eu fico aqui divagando, mas felizmente ainda há quem goste...

Ou será que não há mais? Escrevam e me digam, por favor.

Tio Clive é importante para o Brasil porque foi justamente com suas criações que se formou uma geração dos nossos melhores gênios de informática. Qualquer um que tenha mais que 45 anos, talvez 40 e seja um usuário de informática pesado, daqueles que vão além do MSN e de navegar no Orkut, com certeza teve um micro da linha Sinclair.

Meus primeiros (e únicos) 4 jogos de computador, devidamente registrados na extinta SEI (Secretaria Especial de Informática) e vendidos na extinta Mesbla (será que também fui extinto e nem sei?) foram criados num Sinclair.

Quem procurar na Internet pela revista Micro Sistemas vai descobrir que boa parte dos nomes em evidência no mercado de informática de hoje eram meninos prodígio com seu Sinclair. Para quem quiser checar, tem quase todos os números da MS no site http://cobit.mma.com.br/biblioteca/microsistemas.htm.

Eu não era nenhum menino, tinha já meus 20 e tantos anos, já tinha servido o exército e queria fazer alguma coisa diferente, foi então que caiu o tal Timex -Sinclair 1000 em minhas mãos, mas penei durante exatamente 1 ano e quem disse que eu conseguia sequer escrever meu nome na tela....

Já estava desistindo quando um garotinho de apenas 5 anos olhou meu ZX81 em cima da mesa e disse que tinha um igual.

Putz... coloquei o pirralho no colo e ele finalmente me ensinou a escrever meu nome na tela, no dia seguinte eu já queria escrever jogos no micro.

E escrevi... tudo bem que não foi no dia seguinte, foi alguns meses depois e nem foi no Timex 1000, que só tinha os tais 2 Kb de memória e esta foi a razão de eu ter apanhado tanto, com 2 Kb o micro era muito limitado.

Comprei um CP 200, da Prológica a prestação e nele consegui finalmente fazer algo decente com um computador.

A Prológica era um dos maiores fabricantes de computador daquela época, concorrente direta da Microdigital e acima delas reinava apenas a IBM e a Cobra, sendo que a IBM dispensa apresentações e a Cobra era a empresa criada pelos militares (porque será que militar gosta tanto de cobra?) mas eles não gostam muito que se diga isso então para não chatear ninguém eu digo que a Cobra era a nossa Microsoft, mas sem o Bill Gates.

A Cobra não estava nem aí para pequenos computadores e a IBM muito menos, mas a Microdigital e a Prológica disputavam um mercado absolutamente virgem, que era o dos usuários brasileiros e de acordo com as leis da reserva tinham que fazer micros genuinamente brasileiros.

Ai entra o incrível micro do Tio Clive.

Mas não vou poder continuar, até para minha tradicional prolixidade este texto já ficou muito longo então vou fazer uma coisa que não gosto muito e continuar esta história apenas na semana que vem.

Então quem me acompanha (aguardo suas confirmações em meu email) saberá como um micrinho de 100 dólares conseguiu ser tão importante na história do Brasil e como isso pode acontecer se o Tio Clive nunca autorizou ou permitiu.

Até lá.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Eleições Virtuais, Parte II - A missão

Talvez meu artigo anterior, sobre o uso da Internet nas eleições não tenha sido o mais lido, mas certamente foi o que mais motivou respostas dos leitores ou melhor dizendo... e-leitores.

Até por telefone recebi elogios e críticas, assim como assessores me ligaram pedindo alguma informação ou querendo corrigir algo que eu tenha dito e como não podia faltar, não faltou quem dissesse que estou equivocado ao afirmar que as urnas eletrônicas podem ser fraudadas.

Pois que seja, se o presidente do TSE vai a TV dizer que não podem então que se diga amém a suas palavras e fica o dito pelo não dito, embora minha opinião não mude, mas que fique repetido: segundo o supremo ministro as urnas não podem ser fraudadas e fim-de-papo.

Mas voltando aos níveis menos supremos da vida e atendendo a algumas consultas que me foram feitas e talvez eu não tenha podido responder da melhor forma, vou comentar sobre alguns itens.

INTERPRETANDO A LEI

Tá lá na lei, mais especificamente na resolução 22718, cujo link informo para facilitar a busca:

http://eleitoral.pgr.mpf.gov.br/eleicoes-2008/docs-2008/res22718.pdf

No que diz respeito a Internet, as disposições estão no capítulo IV.

O artigo 18 deste capítulo informa o seguinte:

Art 18. A propaganda eleitoral na Internet somente será permitida na página do candidato destinada exclusivamente à campanha eleitoral.

Se entendermos isso ao pé-da-letra é o mesmo que dizer que não pode fazer propaganda em nenhum outro lugar da Internet e isso incluiria Orkut, Youtube e outros tantos locais, que evidentemente não estão na página do candidato.

Curiosamente o artigo seguinte diz:

Art. 19. Os candidatos poderão manter página na Internet com a terminação can.br, ou com outras terminações, como mecanismo de propaganda eleitoral até a antevéspera da eleição (Resolução nº 21.901, de 24.8.2004 e Resolução nº 22.460, de 26.10.2006).

Ou seja, pode ou não pode ter página com outra terminação?

Num artigo diz que sim, no outro diz que não.

E o que – exatamente – é fazer propaganda eleitoral? Será que citar o endereço do site de um candidato é propaganda eleitoral? Neste caso citar um endereço de site de um candidato em meu email configuraria quebra desta lei?

São questões muito subjetivas e se perguntar a 10 juizes provavelmente teremos 10 respostas diferentes.

Para evitar problemas com isso uma boa parte dos candidatos está preferindo esquecer a Internet, acham que se não chegarem perto de um site, de um endereço de email ou mesmo de um computador estarão livres de dissabores e muitos acham que farão uma boa economia na campanha pois julgam que usar a Internet é algo muito caro e me parece que este será o ano dos candidatos que não vão gastar muito pois olhando a declaração de bens de muitos deles descobrimos algo bastante estranho, alguns não tem qualquer bem, vamos esperar que – se eleitos – saiam do mandato do mesmo jeito.

As maiores dúvidas são com relação ao que se pode ou não pode fazer, alguns candidatos dizem que é expressamente proibido enviar email para seus eleitores mas onde estaria esta recomendação, procurei em todas as leis que pude encontrar e nenhuma informa isso especificamente. Tudo é questão de interpretação.

Continuando a interpretar – como leigo, naturalmente - a resolução do TSE chegamos a outro artigo, o 19, que não vou repetir mas explico com facilidade:

Esta resolução afirma que os candidatos tem direito a registrar gratuitamente um domínio no orgão gestor da Internet no Brasil. Seria um domínio com a terminação .can.br, precedido pelo nome+número do candidato. Ou seja, o candidato Fulano, cujo número fosse 12345 teria direito ao seguinte endereço na Internet: www.fulano12345.can.br.

Muito bacana, fácil de lembrar e ao mesmo tempo já facilita lembrar o número do candidato, mas será que isso vai REALMENTE funcionar?

São mais de 300 mil candidatos em todo o Brasil e até o momento informações na imprensa informam que apenas 25 mil nomes teriam sido registrados, muito embora uma pesquisa simples no Google demonstre que os números são bem menores.

O site www.registro.br na área de estatísticas informa a quantidade de domínios para todas as terminações, menos para .can.br, já solicitei que informem o número exato e estou aguardando.


Nota: Os responsáveis pelo Registro Br enviaram um email informando que não disponibilizam esta informação. Pensei em perguntar porque mas imaginei que se quisessem esclarecer já teriam dito. Então fica assim: não enviam porque não querem.
Uma das razões de não termos tantos sites .can.br é que o TSE também permitiu que os candidatos mantivessem outras denominações de site, ou seja, o .can.br passou a ser opcional. Mas neste caso voltamos ao artigo 18 e 19 da resolução 22718, pode ou não pode?

As regras mudam da noite para o dia, ou de acordo com o amadurecimento dos técnicos do TSE, afinal a Internet tem “apenas” uns 13 anos, fica parecendo que o TSE entende que ela ainda não está na idade de participar das eleições.

Um dos políticos com quem conversei informou que a campanha só começa de verdade após o dia 15 de Agosto... interessante isso, será que todos combinaram uma nova data?

E a resolução nada mais diz, naturalmente temos a lei 19504, de 1997- que ainda chama site de sítio – mas tudo que ali está, pode-se dizer que já caducou.

O QUE PODE, O QUE NÃO PODE?

Pode escrever no Orkut? Pode colocar foto no Flickr? Pode colocar vídeo no YouTube?

Todos acham que não, mas onde é que está escrito isso?

E se um espectador decide filmar um candidato e colocar no YouTube, o candidato será punido?

São questões que deveriam ser simples, mas não são e o motivo é um só, o TSE não sabe realmente o que fazer com a Internet e com isso as eleições de 2008 serão caracterizadas justamente pelo medo.

Não pode servir comida, ou seja, ou os candidatos e seus correligionários terão que comer escondidos em algum lugar ou correm o risco de ser flagrados perto de um prato de feijão e acharem que está promovendo uma feijoada.

E como fica o vendedor de churrasquinho? O pipoqueiro? Serão retirados pela polícia?

Quem perde com isso não é o candidato, que acaba fazendo economia, mas legislar sobre o churrasquinho me parece querer ir muito além da competência do legislador.

Se não pode escrever no Orkut então danou-se, melhor fechar o Orkut de vez pois não tem fiscal ou juiz que vá impedir que comunidades oficiais ou não proliferem por lá e que o assunto principal seja o candidato político. O mesmo vale para outros serviços públicos e populares, não há como impedir e tampouco qualificar quando houve abuso da parte do candidato ou seus representantes, mesmo porque é estupidamente fácil forjar algo parecido com um abuso e neste caso criamos a situação em que o candidato é culpado até prova em contrário, invertendo uma regra elementar do direito;

E o SPAM?

Se começar a receber uma chuva de mensagens VOTE NO FULANO, vai parecer que o FULANO perdeu a cabeça e pimba... multa nele, desclassificação e tudo mais.

Mas como saber quem fez a patuscada?

Me desculpe quem achar o contrário, mas não tem como. Há mil e uma maneiras de se simular que alguém ligado a um candidato ou o próprio saiu fazendo SPAM.

Qualquer pessoa também pode criar um website, associar a um nome de candidato e criar problemas para este. Como o tempo das eleições é curto, até provar que focinho de porco não é tomada a eleição poderá estar comprometida.

CONCLUSÕES

Até hoje encontro quem não confie em usar Bank Line e já me deparei com diversas situações onde a fraude ocorre justamente porque o cliente de um banco não registrou sua senha eletrônica, pois isso facilita muito a fraude, é mais difícil invadir uma conta que tenha seus registros eletrônicos definidos do que uma conta que ainda não os tenha, não vamos entrar no mérito desta questão, mas faço a analogia justamente para esclarecer que seria mais difícil criar um problema para um candidato que tenha seu site oficial do que para um que não o tenha.

Um site falso de um candidato não terá vida longa se existir o site verdadeiro, mesmo porque o internauta sabe procurar, sabe pesquisar e havendo o site real ele será encontrado.

Continuo defendendo a tese de que se o TSE quer REALMENTE verificar o que o candidato está fazendo deveria simplesmente assumir todo o controle do processo, gerenciando os sites e as ferramentas necessárias ele mesmo, não permitindo que candidatos utilizem outros meios que não sejam os ali disponibilizados e fazendo a necessária divulgação disso.

Nada impede que o TSE faça acordo com os serviços mais conhecidos, como sites de blogs, de fotos, de vídeos e defina acordos que permitam seu uso por um representante dos candidados, devidamente autorizado e identificado, tal como já ocorre junto ao Registro.br, onde é necessária a criação de uma identificação para usar o serviço.

Se fosse feito desta forma, os excessos ocorreriam em menor quantidade e seriam mais fáceis de serem identificados.

Na prática o TSE já faz este serviço, pois coloca no ar um mini-site contendo foto, nome e outras informações do candidato, mas esquece do principal, que é o mesmo que os candidatos estão esquecendo, que a Internet é uma mão de duas vias.

A diferença principal da Internet em relação a TODAS as outras mídias (exceto telefone) é que o participante não é passivo, o internauta não tem apenas que receber o “santinho” do candidato e dizer amém, ele tem o direito de poder perguntar de volta.

Nesta eleição, candidato que não colocar seu email ou site na propaganda nem terá minha atenção, para mim nem existe pois se quando pede meu voto não está disponível para responder as perguntas ou efetuar um contato é evidente que depois de eleito vai estar ainda menos disponível, como alias tem ocorrido com praticamente todos que dizem nos representar, só aparecem para pedir voto.

Outro dos políticos com quem conversei disse que nem sempre a resposta é dada pelo candidato, que muitas vezes alguém responde em nome dele. Bom, eu digo que se alguém responde em nome dele é porque ele autoriza e que esta pessoa o representa.

O mundo virtual ainda precisa ser compreendido e creio que falta ainda uma geração passar para começar a ser utilizado de verdade. O fato é que em 2008 acredito em alguma renovação no processo e uma delas é a exigência de que o nosso representante pelo menos entenda que a Internet veio para ficar e ser usada e não apenas para enfeitar cartões de visita e muito menos santinhos.

terça-feira, 29 de julho de 2008

ELEIÇÕES VIRTUAIS

Não costumo assistir novelas, então posso estar enganado no que vou dizer no próximo parágrafo, mas mesmo que esteja errado vale a assertiva, quem me contou o caso foi minha esposa e se ela teve esta sensação é justo dizer que outros tiveram também.

Foi na novela das 8, creio que o nome é "A Favorita", e nesta novela ocorreram eleições utilizando a urna eletrônica em uma cidade do interior e em seguida foi mostrada a passagem de dois dias para só então os eleitores saberem o resultado.

Ora... se a finalidade da urna eletrônica é justamente agilizar o conhecimento do resultado e em todo o Brasil podemos saber quase no mesmo dia o resultado de eleições nacionais, então porque uma cidade pequena teria que esperar dois dias para saber o resultado?

Não sei se foi furo da Globo ou se foi a imaginação de minha esposa, como não vi só posso contar como um "causo" mas tem muito a ver com o sentimento que as pessoas tem a respeito da Internet e da informática quando se trata de eleições.

A Urna Eletrônica é - sem dúvida - um avanço, tanto em questões de segurança, quanto em questões de agilizar o sistema, mas não gosto nem um pouco quando os responsáveis pelo TSE afirmam que ela é inviolável, infalível e outros "ins" que não são - exatamente - a expressão da verdade.

Nas questões de segurança existe farto material na imprensa que comprova que houve falhas de segurança diversas em todas as eleições, as falhas ocorreram por motivos técnicos ou erro humano e isso já joga por terra a infalibilidade deste dispositivo e quem conhece bem eletrônica ou informática sabe que não existe dispositivo infalível, a quem afirmar que a urna é infalível faltará uma boa dose de bom senso e a quem acreditar, uma boa dose de "simancol".

Mesmo sendo "falível", a Urna Eletrônica ainda é um processo melhor que a falibilidade humana do outro processo, volto a defender esta tese, para que não me entendam como alguém que não aceita a informática.

Outra tese é de que com a Urna os antigos processos de fraude deixaram de ocorrer, além desta assertiva ser uma enorme bobagem, pois todos os processos de fraude continuam possíveis, ainda surgiram novos processos.

O mais complexo de todos é a "caixa preta" que tem dentro dos sistemas da urna e os sistemas de apoio (transmissão de dados, autenticação do eleitor, etc) o TSE nos diz que temos que confiar no que ele faz, afinal paga os melhores técnicos e não podemos duvidar da integridade dos membros que compõe esta instituição.

Até ai tudo bem, vamos supor que toda a enorme equipe do TSE seja constituída apenas de pessoas íntegras, honestas e competentes.

Mesmo assim existe a possibilidade de que por uma falha do sistema o voto de um candidato seja passado para outro, isso já ocorreu e mesmo que o TSE apresente as melhores justificativas o fato é que em alguns lugares isso ocorreu, está documentado na imprensa escrita, falada e televisiva e se não ocorreu as justificativas apresentadas não convenceram.

E existe um outro fato a preocupar. Quem não se lembra daquele episódio com o ACM, que solicitou vistas a votação de parlamentares, que deveria ser secreta e recebeu a informação.

Pois no formato atual da urna, onde o eleitor é autenticado antes de votar é possível que uma análise dos históricos permita saber quem votou em quem. O TSE diz que não é possível, mas diversos técnicos de alta competência já provaram que é possível e existe na Internet diversos sites e instituições que comprovam por A + B que sem imprimir os votos e sem separar a autenticação da votação é possível não só saber quem votou (o que seria inconstitucional) mas também impede que uma contra-prova seja efetuada no sistema de votos.

Como podemos acreditar num sistema que usa a si próprio como contra-prova?

E para finalizar, já que o espaço é pouco, comprovei pessoalmente a possibilidade de uma das fraudes mais antigas no sistema novo. O velho curral-eleitoral, onde o voto é comprado antecipadamente.
No sistema antigo era muito fácil de fazer, o primeiro eleitor fraudador entrava e não colocava seu voto na urna, saia com a célula em branco e entregava a célula para outro eleitor que ao lado do responsável pela fraude deveria entrar, colocar aquela célula e sair com a sua em branco.

FRAUDAR É POSSÍVEL

Os defensores da infalibilidade da Urna Eletrônica dizem que é impossível fazer isso no sistema atual, mas só dizem isso porque não tem imaginação, vou demonstrar como seria possível:

Tem uma placa enorme em alguns locais de votação dizendo ser proibido entrar com celulares ou câmeras, mas quem disse que alguém fiscaliza isso? Eu mesmo sempre entrei com celulares contendo câmeras em mais de uma eleição e se quisesse, ninguém me impediria de fotografar meu voto.

Pois bem... basta a pessoa entrar com um celular, fotografar seu voto e terá como comprovar a terceiros qual foi o voto que usou.

Ou seja, um dos sistemas mais antigos é mais fácil de fraudar do que mascar chiclete, com um simples celular e com a falta de fiscalização.

O TSE pode dizer que quem entrar com celular será severamente punido, mas neste caso teria que passar por cima de um monte de outras leis que permitem ao cidadão usar equipamentos que não sejam constitucionalmente proibidos e o celular ainda se encontra nesta categoria, se não conseguem tirar ele nem de dentro das prisões como podem querer tirar do cidadão.

E se eu quiser fotografar meu voto para meu uso pessoal? Teriam que fazer uma lei para impedir e até onde posso saber ainda não fizeram.

CANDIDATURAS ON LINE

Vamos agora falar de algo também muito importante, ou seja, como os candidatos estão usando a Internet.

Se for o caso volto a este assunto, mas tenho percebido que os candidatos ainda não entenderam o poder da Internet ou se entenderam não estão bem assessorados nesta questão.

No site do TSE tem informações completas sobre cada candidato e as leis eleitorais deste ano previram até mesmo um domínio especial para os candidatos, com a terminação .can.br e fizeram a coisa direitinho, o domínio é gratuito e o candidato precisa estar regularizado junto ao TSE para ter direito.

Alguém já viu um candidato apresentar site ou email com a extensão .can.br?

Eu nunca vi. Inicialmente seria obrigatório mas o TSE mudou a regra e permitiu que os candidatos utilizassem o email ou site de sua preferência, deixando a nova extensão como opcional.

Até ai tudo bem, nada mais justo e democrático.

Mas e sites de candidatos, quem vê?

Perto do universo das candidaturas só posso dizer que são ínfimos.

E no site do TSE, onde tem as informações "completas" sobre os candidatos, tais como o Processo de Candidatura, Declaração de Bens e Prestação de Contas.

No entanto, não consta no local nenhuma forma de contato com o candidato, um telefone, um email, um website... uma situação absurda pois seria o mesmo que indicar onde tem uma festa mas não indicar com quem se fala pra comprar o convite.

Se o próprio TSE não entende que a informação precisa ser completa, como podemos esperar que os candidatos entendam isso?

Fiz também uma pesquisa na Internet, para saber o que está sendo feito para ajudar as pessoas a entenderem as eleições ou como devem analisar uma candidatura e encontrei muita coisa interessante, mas pedi a algumas pessoas de meu conhecimento para buscarem o mesmo e me surpreendi com os resultados... não encontraram praticamente nada.

Não é normal que uma pessoa comum, sem conhecimentos técnicos não encontre informações sobre um assunto tão importante, me faz pensar que talvez exista quem prefira que a desinformação continue a grassar neste país e que o voto seja decidido por sorteio - ou pior, por interesse - no dia das eleições.

Por não concordar com esta situação fiz algo que já deveria ter feito há muito tempo, como deve ser do conhecimento de meus leitores, faço websites e minha página para vender este serviço está em www.centraldesites.net e obviamente faço sites também para políticos.

Mas entendi que apenas fazer o trabalho é pouco, é preciso conscientizar as pessoas, tanto os que se candidatam, quanto os que votam que a Internet é atualmente o meio mais importante de divulgação e comunicação que existe e que não deve ser ignorada, seja pela ignorância pura e simples ou pela ação premeditada.

Na minha opinião, o TSE deveria disponibilizar um sistema para os candidatos onde seu website fosse automaticamente montado a partir dos dados informados (eles já demonstraram que tem estes dados) não seria muito diferente do que já está sendo feito. Mas além da foto do candidato (que deveria ser obrigatória, pois em muitos não tem a foto) e dados básicos seria necessário ter um formulário de email e outros itens básicos de um website.

Tudo padronizado e se o candidato quiser que crie seu site complementar, com as informações e recursos que achar que precisa ter.

Isso não é serviço para o candidato, é serviço para o público.

FINALIZANDO

A publicidade na TV não pode ser retirada, afinal nem todo mundo tem Internet em casa (70% dos brasileiros ainda não tem) mas seria interessante que ao invés das bobagens que dizem os candidatos apenas indicassem seu website e quem realmente tem consciência cívica procurasse se informar a partir de Lan Houses e instituições de acesso gratuito.

Aliás, os próprios partidos em suas sedes que espalham pela cidade, deveriam colocar computadores para acesso público com informações sobre seus candidatos.

Vamos usar a Internet de forma proveitosa e não apenas como um enfeite.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

MAIS E MELHORES MUNDOS VIRTUAIS

O primeiro mundo virtual de que tive notícia foi o Active Worlds, foi nos primórdios da Internet brasileira e lembro que um amigo chegou a investir bastante neste formato, comprou uma "gleba" virtual e início a construção de uma réplica da cidade onde vive, bem próxima de Ribeirão Preto, estava no ar a Orlândia virtual.

O Active World ainda existe, basta acessarwww.activeworlds.com e baixar os programas necessários para a instalação.

Por motivos que desconheço não "colou" no Brasil, embora o programa tenha evoluído muito e recentemente andei passeando por lá, estava bem melhor do que na época da Internet discada, que provavelmente foi a causa maior da falta de sucesso deste empreendimento por aqui.

Muitos outros projetos similares foram criados, a maioria nem chegou ao conhecimento do público, mas recentemente um grande trabalho de marketing tornou famoso no Brasil o Second Life, que já era sucesso no exterior e chegou a nossas fronteiras a partir de uma parceria com o IG e outras empresas.

Cadastrei-me no SL e descobri muito cedo que é um mundo caro para se viver, tudo ali custa alguma coisa e qualquer ação neste mundo corresponde a uma proposta de compra de Lindens, a "moeda oficial" desde novo mundo.

A publicidade diz que no SL você pode ganhar dinheiro, que todas as grandes empresas estarão presentes e realmente deve ter alguém que ganha dinheiro por ali, sem contar que as empresas realmente grandes estão por lá, mas a chance de uma pequena empresa aparecer neste mundo depende diretamente da quantidade de recursos em lindens que esta empresa puder adquirir.

Nunca mais voltei ao SL, já tenho contas demais para pagar no mundo real.

A NOVIDADE

Recebi, na semana passada o convite para entrar no Lively, um novo mundo virtual, by Google, que faz sua estréia na Internet.

Fiquei um pouco frustrado com minha primeira experiência, onde o espaço Brasil está em uma pequena ilha, lotada de personagens estranhos com um visual bastante caótico.

O programa leva um tempo para baixar todos os recursos necessários, mas o interessante é que ele roda direto do navegador, não precisa instalar (por enquanto) nenhum programa a parte, embora solicite a instalação de alguns plugins.

Depois pesquisei outras salas e até iniciei a criação de uma e comecei a me dar conta de que desta vez temos um mundo virtual integrado com outros pacotes que o Google oferece. É possível criar objetos usando o sistema SketchUp, integrar salas aos mapas do GoogleMaps e certamente os demais sistemas Google, tais como email, agenda, etc brevemente estarão integrados.

O Lively é ainda um sistema beta, está em construção e tem muitas coisas ainda que ficam na promessa, mas está totalmente funcional e o melhor de tudo, lá não há lindens ou qualquer outra moeda, este mundo virtual segue o padrão 0800 da Google, de oferecer gratuitamente os serviços e faturar na publicidade.

Ainda não criei minha sala no Lively, fiz uns testes, brinquei e gostei do sistema, em breve estarei presente neste novo mundo e informo o caminho das pedras para os interessados.

Por enquanto basta digitar no seu navegador:www.lively.com e divirta-se.

terça-feira, 15 de julho de 2008

HISTÓRIA DA INFORMÁTICA NO BRASIL - PARTE IV

A RESERVA DE MERCADO

Quando os militares assumiram o governo do Brasil, entenderam que deveriam fazer algo para preservar o avanço do país em tecnologia e criaram uma lei que passou a ser conhecida como "Reserva de Mercado".

Era uma lei bastante complexa e até bem intencionada e acredito que não se possa culpar os militares pelo atraso tecnológico que causou ao país, mesmo porque todo o atraso veio também das diversas formas e artifícios que alguns empresários utilizaram, usando falhas ou deturpações desta lei.

Basicamente a lei pretendia impedir a entrada no país de computadores comprados no exterior, para um computador ou equipamento eletrônico ser vendido no Brasil era preciso cumprir uma série de regras, sendo que a maioria delas eram desastrosas, do ponto de vista comercial, isso fez com que as grandes empresas de tecnologia simplesmente passassem a ignorar o Brasil.

A idéia por trás da lei era obrigar as empresas a transferir tecnologia para as empresas nacionais e também garantir a subsistência destas empresas em um mercado muito novo, que começava a se formar, o dos computadores.

Para garantir e fiscalizar o cumprimento da lei foi criada a SEI (Secretaria Especial da Informática) que passou a responder por qualquer atividade ligada a hardware e software no país. Este autor tem o duvidoso privilégio de ter 4 programas registrados na SEI, são jogos de computador e provavelmente os primeiros deste tipo a procurar o orgão para registro, pelo menos é o que sempre me disseram, mas não há como saber, de qualquer forma tive a oportunidade de conviver - em todos os níveis - com aquela época confusa.

Não era fácil, lidar com os programas e equipamentos que a SEI aprovava era um teste de paciência e resignação para qualquer um.

SOFTWARE

O Brasil está - ainda nos dias de hoje - muito atrasado em termos de criação de software, praticamente não existe nenhum software brasileiro que tenha sido sucesso mundial e isso vem desde os anos 80.

A lei, que pretendia facilitar a vida dos criadores acabou fazendo o efeito contrário, pois sem acesso a bons computadores como se podia pretender que as pessoas desenvolvessem algo?

Um dos softwares de maior sucesso junto ao meio empresarial chamava-se "Carta Certa" era um editor de textos, similar ao Word, mas fora o fato de serem ambos editores de texto as similaridades ficam apenas por conta da imaginação. O programa era tão esquisito que usava a tecla ESC para aceitar uma entrada, sendo que a tecla ESC (de ESCAPE) sempre foi utilizada universalmente para SAIR de algo, para finalizar, no Carta Certa usavam para entrar dados.

O programa era terrível, usá-lo era um sacrifício, mas era praticamente obrigatório, já que outros excelentes programas editores de texto simplesmente não podiam ser comprados pelas empresas, uma vez que não atendiam as especificações mínimas da Reserva.

Programas mais complexos, na área de engenharia, CAD, ou sistemas eram simplesmente impossíveis de serem criados, restava a quem quisesse utiliza-los gastar muito dinheiro para convencer a SEI de que não existiam similares nacionais e aí apareciam os espertinhos, que criavam um "similar" e tentavam empurrar para as empresas, tudo com o aval oficial do governo.

Não é por acaso que muitos dos "empresários" ligados a estas empresas da picaretagem eram parentes de militares ou os próprios, já que para estes sempre foi mais simples resolver os infinitos entraves burocráticos que impediam o progresso nesta área.

Não quer dizer que não se fez nada no Brasil, o país é pioneiro em tecnologia de sistemas bancários e sistemas para gerenciar lojas e industrias surgiram, mesmo com todas as limitações. Vi um destes exemplos bem de perto quando tive oportunidade de trabalhar na Chocolate, uma franquia de roupas para mulheres que foi pioneira em Automação Comercial e contava com excelentes programadores em seu quadro de funcionários e criou todo o seu sistema a partir de conhecimentos próprios.

Mas são exceções que confirmam a regra, nos demais setores o Brasil ficou praticamente congelado, nada se fazia e não aconteceu o esperado desenvolvimento tecnológico.

HARDWARE

Na área de hardware o buraco era ainda mais embaixo, os defensores da SEI esperavam que as empresas transferissem tecnologia de ponta para empresas brasileiras, aceitassem ter menos que 10% do capital destas empresas e ainda que os empresários fossem honestos. Era querer demais.

Com isso proliferaram as "marcas nacionais" de computadores que simplesmente desrespeitavam direitos autorais e utilizavam-se descaradamente de processos de engenharia reversa para criar falsos computadores "brasileiros" que na verdade não passavam de clones de computadores famosos no exterior.

Um dos casos mais escandalosos foi o da empresa Microdigital, que "fabricou" diversos clones e colocava neles sua marca. Como a série TK (Abreviatura dos nomes dos dois donos da empresa) que era cópia mais que descarada de um famoso computador criado por Sir Clives Sinclair, tão simples e tão bem feito que começou sua vida no Brasil em revistas de eletrônica, podendo ser montado por curiosos ou técnicos com conhecimentos de eletrônica. O TK não era o único computador da Microdigital, mas certamente foi o mais popular, a verdade é que eles copiaram praticamente todos os modelos que existiam na época e a empresa era vista como uma "gigante" na área.

A empresa oficial do governo, a Cobra, praticava exatamente o mesmo delito, mas certamente o fez em esferas diferentes e os computadores da Cobra acabaram sendo o padrão para universidades, bancos e órgãos influenciados pelo governo, como eram sistemas de maior porte o público não tinha noção do que acontecia e o povo achava que o Brasil "crescia" nesta área.

Voltando ao TK, os advogados do verdadeiro criador do micro abriram um processo contra a indecente pirataria que estava sendo praticada as vistas de todos e o resultado do processo demonstrou em que nível o país se encontrava. Um juiz deu ganho de causa a Microdigital, afirmando que haviam pequenas diferenças entre os equipamentos e que isso não permitia aceitar a clonagem.

Sinclair deve ter se conformado, reza a lenda que foi feito um acordo entre sua empresa e os demais fabricantes do seu excelente micrinho pois outras empresas seguiram o mau exemplo e o micro ZX, de Sinclair chegou a ser pirateado por até 4 empresas, todas sob o aval da Reserva de Mercado.

Falo destes micrinhos pouco conhecidos porque eram os mais populares, os que efetivamente chegavam a casa das pessoas, já que os "grandes" computadores eram ainda privilégio de uns poucos.

E entre os micros podemos colocar os vídeo games, o Atari 2400 teve sua estréia no Brasil como uma das maiores muambas já feitas, a Mesbla, que na época era uma das maiores lojas de varejo do país, trouxe o console em um Natal e afirmava que ele tinha sido produzido em Manaus, mas sabe-se que o máximo que fizeram em Manaus foi mudar o chip que controlava a cor do equipamento, já que nos EUA o sistema era NTSC e no Brasil era PAL-M, para o videogame funcionar nas TVs brasileiras era preciso fazer um processo chamado transcodificação.

A industria da televisão e vídeo e dos automóveis foi uma das mais prejudicadas com a Reserva de Mercado, os chips eram considerados material de informática e tinham que ser submetidos a aprovação da SEI, imagina-se o mar de corrupção que não foi gerado e enquanto isso o brasileiro pagava caro por material de segunda categoria, muambado ou até mesmo falsificado.

Quando Collor de Melo assumiu a presidência e assinou oficialmente o fim desta lei, fez certamente seu único ato decente de governo, embora a lei já estivesse insustentável quando Collor assumiu seu mandato.

O FIM DA RESERVA

O que veio depois é conhecido, o Brasil hoje já está entre os países que mais utilizam a tecnologia em todo o mundo, mas ainda não nos recuperamos de praticamente duas gerações que não puderam acompanhar o resto do mundo e ter acesso a tecnologia, enquanto Bill Gates brincava na sua escola com supercomputadores os garotos brasileiros (onde se inclui este escrevinhador) mal conseguiam ter acesso a uma máquina de escrever e este custo não tem como recuperar, temos no Brasil um buraco tecnológico de mais de 20 anos e por isso mesmo a Índia, China, Coréia e tantos outros países com menos recursos estão se destacando na área tecnológica, em software e hardware.

Chegaremos lá, hoje vejo com muita felicidade que até mesmo os jogos de computador começão a ser aceitos como uma profissão do futuro no país onde criadores de jogos eram vistos como marginais ou - na melhor das hipóteses - crianças crescidas que não tinham muito o que fazer.

O Brasil tem excelentes talentos, há programadores brasileiros se destacando em todas as áreas, mas praticamente não fabricamos chips, até mesmo simples memórias só começamos a fabricar recentemente e não existe nenhum gênio de informática que tenha escrito ainda seu nome na história e seja brasileiro.

Com toda a certeza, enquanto o mundo sofria a revolução da informática o Brasil e seus governantes achavam-se muito espertos e como sempre a conta é apresentada a nós, o povo.

E a lição aparentemente não foi aprendida ainda, recentemente começamos a usar TV de alta definição no país e copiou-se um erro dos mais crassos que a Reserva de Mercado permitiu, quando tivemos a pretensão de inventar um novo sistema de codificação de cores, sistema este que só sobrevive graças a grande base instalada, mas quase não se vê mais TVs que usem o sistema PAL-M e com o advento da TV digital os sistemas deixarão de ser importantes.

O que se fez no caso das TVs foi optar por não adotar nenhum dos sistemas já existentes no resto do mundo, novamente o Brasil sonha grande demais e julga que pode criar seu próprio sistema, quando na verdade não dispõe de mentes geniais o suficiente para isso e ficará dependente de outros países, neste caso o Japão, que encontra nos brasileiros o apoio para seu sistema, que até então estava perdendo para os adotados nos EUA e na Europa.

E com isso perde-se tempo, perdem-se oportunidades e gasta-se o dinheiro que suamos para ganhar.

Mais detalhes, perguntas ou sugestões a respeito deste tema serão bem vindos na lista criada para esta coluna.