terça-feira, 24 de junho de 2008

HISTÓRIA DA INFORMÁTICA NO BRASIL - PARTE III

O FANTASTICO AMIGA

O engenheiro eletrônico Jay Miner, falecido em 1994, tinha um projeto na cabeça. Era um visionário, da mesma cepa que Paul Allen, Steve Jobs, Clive Sinclair e tantos outros gênios que são os responsáveis pelos fantásticos microcomputadores que utilizamos atualmente.

O sonho de Jay era bastante pretensioso, queria construir um computador capaz de processar textos, imagens e sons, ter multiprocessamento e tantos outros recursos que poucos acreditaram em sua idéia.

O leitor ou a leitora mais atentos afirmarão que qualquer notebook tem tudo isso, mas para entender porque Jay era um visionário precisamos voltar ao início dos anos 80, quando estes recursos eram praticamente impossíveis em qualquer computador.

Mas exatamente em 1984 Jay conseguiu sucesso em seu empreendimento e lançou o computador Amiga 1000, que possuía todos aqueles recursos e em 1985 foi ainda mais longe e lançou uma versão tão simplificada, o Amiga 500, que era até difícil acreditar que aquele computador, praticamente do tamanho de um teclado (dos atuais) pudesse ter tantos recursos.

A história do Amiga é impressionante, mas se começar a contá-la vou fugir do objetivo inicial, que é contar a história da informática no Brasil e o Amiga faz parte dela.

Assim que foi lançado nos EUA, o Amiga também começou a conquistar alguns usuários no Brasil. Como era um computador pouco conhecido, não havia muitos que soubessem de sua existência e apenas uns poucos felizardos tiveram a felicidade de começar a usar o Amiga desde seu lançamento nos EUA. Eu mesmo, que fui um dos maiores divulgadores deste computador, só consegui meu primeiro Amiga (um modelo 500) em 1988 e desde então passei a ignorar os demais computadores que existiam.

Em 1991, o Amiga saiu da lista dos computadores que só entravam no país através de contrabando e passou a ser "fabricado" no Brasil, pela empresa PCI, que lançou o modelo Amiga 600, com grande campanha publicitária.

Na verdade o Amiga 600 não era fabricado, mas sim montado no Brasil. A PCI investiu pesado em divulgar o equipamento por aqui e posso atestar isso particularmente, já que fui contratado pela empresa para promover a marca e minha maior contribuição foi convencer os diretores de que o Amiga 600 não era um modelo adequado para o pais e devo ter sido ouvido pois em breve a empresa estava fabricando o Amiga 1200, o melhor modelo da linha, no quesito custo/beneficio. E também consegui que o Amiga 4000, o mais potente de todos fosse trazido para o país, a um custo bastante salgado, o que inviabilizou bastante a venda deste modelo, embora o Amiga 1200 tenha sido um sucesso.

Mas em 1994, soprou um vento mortal no Canadá e a Commodore, empresa que detinha os direitos da linha Amiga em todo o mundo, foi decretada como falida.

Foi uma tremenda ironia, pois justamente nesta época o Amiga se tornava conhecido no Brasil e começava a ser aceito e reconhecido, mas a falência da empresa principal fez a PCI abandonar a linha e com isso decretou-se o fim do Amiga também em nosso país.

Particularmente a falência da Commodore foi marcante em minha vida pois eu me dedicava a este computador já há mais de 8 anos e praticamente toda minha vida circulava em torno da linha Amiga, eu dava aulas, consultoria, desenvolvia produtos para o micro e tinha dois livros sobre ele, pronto a ir para a gráfica, sem contar que colaborei com a criação de todas as revistas especializadas, criadas especialmente para divulgar a linha.

Muitos micro empresários, especialmente ligados a produção de vídeo e áudio também ficaram orfãos, mas se entrarmos em uma produtora de video ou áudio, mesmo nos dias de hoje é possível ainda ver Amigas em plena operação, fazendo seu trabalho.

Foi mais um excelente computador que os brasileiros viram desaparecer e se tornarem anônimos.

Minha sorte foi que a Internet chegou ao Brasil praticamente junto com o fim da era Amiga e assim pude me dedicar a esta nova onda e absorvi bem a transição. Foi quando comecei a usar os micros da linha PC... mas isso é outra história.

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