terça-feira, 19 de agosto de 2008

História da Informática no Brasil - Parte 5B

O INCRÍVEL SINCLAIR – Parte 2

Continuação do texto sobre Sir Clives Sinclair, (http://en.wikipedia.org/wiki/Clive_Sinclair) e como sua invenção influenciou a vida de muitos brasileiros.

No texto anterior, foi informado como o Tio Clive criou um dos mais eficientes, baratos e interessantes computadores da história da informática. Este fantástico micrinho chegou ao Brasil inicialmente através de hobbystas de eletrônica, que compravam os componentes do computador em separado, montavam a placa e adicionavam uma ROM contendo o SO (Sistema Operacional) criado por Sinclair.

Foram poucos os que tiveram condições de montar o micrinho e fazê-lo funcionar, mas atentos ao interesse do público a empresa Microdigital decidiu montar o experimento em forma de produto e lançou no mercado – com grande sucesso – sua primeira versão do computador, cujas futuras versões passaram a ser conhecidas por linha Sinclair. Outra empresa, também fabricante de computadores entendeu que era um mercado promissor e lançou sua versão.

Assim surgiram o TK-80c e o CP-200, que tinham aparência bem diferente, mas eram compatíveis e rodavam todos os programas compatíveis com o ZX80 que era a versão original do primeiro micro criado pela Sinclair Research, a empresa do Tio Clive.

Os micros Sinclair originais tiveram diversas outras versões e foram recebendo complementos, a última versão conhecida foi o micro Spectrum, que teve vários modelos antes de ser substituído por outro tipo de computador, o Quantum, logo após a venda da Sinclair Research, que já se encontrava quase a beira da falência, o talento do Tio Clive era para criar e não para vender ou administrar, faltou a ele a parceria com alguém com o talento de Bill Gates e se houvesse tal parceria pode ser que hoje todo mundo tivesse um micrinho da linha Sinclair, ao invés destes monstrengos que ainda usamos.

Uma das razões da empresa de Tio Clive não dar certo foi justamente o fato de sua criação ser tão fácil de copiar.

No Brasil, a Microdigital transformou o TK em seu maior sucesso de vendas e explorou os micros durante muito tempo, em várias versões, que apresentava ao público como se fosse criação da empresa, mas não passavam de clones, o TK80 chegou até a versão TK85, quando foi substituído pelo TK90, que correspondia ao Spectrum inglês e tinha imagem a cores, maior capacidade de memória e muitos periféricos interessantes, inclusive digitalizadores, impressora térmica, disco rígido e outros acessórios poderosos para a aparência tão simples do computador, que sempre foi muito pequeno, com mais ou menos metade do tamanho de um notebook atual.

A Prológica não deu tanta atenção a linha Sinclair e se dedicou a clonar outros tipos de computadores e pelo menos mais uma empresa chegou a se destacar no mercado fazendo um clone que tinha características diferentes, era a Ritas do Brasil, originalmente uma fábrica de botões e que resolveu atuar no ramo da informática.

O computador da Ritas chamava-se Ringo e apesar de ser compatível com os programas dos micros da linha Sinclair trazia algumas inovações nos conectores que o tornavam incompatível com o hardware já existente.

Foi justamente esta meia-compatibilidade que tornou o Ringo um fiasco no mercado, pois tecnicamente era superior aos outros modelos vendidos no Brasil, com um teclado mais eficiente e periféricos de última geração, mas a Ritas falhou ao pensar que poderia ser melhor que o próprio criador da linha.

DIREITOS AUTORAIS

Tanto a Microdigital, a Prológica ou a Ritas, jamais pagaram – pelo menos oficialmente – direitos autorais a Clive Sinclair ou a sua empresa.

Alegavam que não estavam copiando o micro e mesmo após a empresa de Tio Clive abrir processo contra os clones brasileiros não foi possível ganhar e ficou famosa a sentença do juiz que julgou o caso e afirmou que os Sistemas Operacionais não eram o mesmo.

Verdade... tanto a Microdigital quanto a Ritas acrescentaram linhas de código ao SO original e certamente não eram idênticos, mas bastaria considerar que mais de 90% do código era idêntico para que a justiça fosse feita.

Mas não foi, os micros continuaram a ser fabricados livremente no Brasil e dizem as lendas urbanas, que foi feito um acordo secreto entre as empresas e os advogados do Tio Clive e tendo ficados todos satisfeitos o micrinho poderia continuar a ser fabricado por aqui.

A Microdigital explorou a linha por muito tempo, mas com a falência da empresa original não havia evolução e – aos poucos – o fantástico micrinho do Tio Clive foi sendo substituído por outras inovações tecnológicas, especialmente os micros da linha MSX, que acabou se transformando numa febre mundial.

SOFTWARE E CRIADORES

Havia muitos programas para os micros da linha Sinclair, poucos criados no Brasil mas é com o orgulho de quem criou parte destes programas que posso afirmar que foram poucos e bons.

Havia programas incríveis para este pequeno computador, que iam dos muito procurados jogos até fantásticos aplicativos, que não deixavam a desejar para os Office da vida que temos que aturar nos dias de hoje e que consomem toneladas de gigabytes. A diferença é que os programas da linha Sinclair usavam poucos bytes, eram normalmente criados em linguagem de máquina e ocupavam espaços minimalistas e nem por isso deixavam de fazer o essencial.

Editores de texto tinham quase todos os recursos que um Word oferece, assim como Bancos de dados e Planilhas e os jogos aproveitavam incrivelmente os recursos do processador.

Verdade que os jogos da linha anterior ao Spectrum exigiam muita imaginação do jogador para entender que um simples asterisco virava uma nave espacial, mas mesmo esta linha contou com um redefinidor de caracteres capaz de transformar mesmo um asterisco no Tie Fighter de Darth Vader.

Os jogos criados por este escrevinhador foram desta fase, o mais popular deles, chamado Cavernas de Marte, tinha como personagens um A que fazia as vezes de um astronauta, um asterisco que fazia as vezes de uma aranha gigante de marte.

E tinha os adventures de texto, o mais famoso deles começou como um projeto pioneiro na revista Micro Sistemas e foi o primeiro jogo em português, criado, produzido e publicado numa revista, chamava-se Aventuras na Selva e posteriormente versões deste jogo, com o nome Amazônia foram criadas para praticamente todos os micros que foram produzidos no Brasil, sempre pelo criador original, Renato Degiovani, com o qual me orgulho de ter aprendido muito pois era meu ídolo na época e atualmente um grande amigo, ainda envolvido com a produção de jogos, mas só nos intervalos em que cuida da netinha.

Nem Renato nem este escriba chegamos a ganhar algum dinheiro com a produção de jogos ou programas nesta fase da informática brasileira e infelizmente os tantos outros excelentes profissionais que também se arriscaram no difícil mercado do software tiveram o mesmo destino.

Mas se alguém quiser fazer uma pesquisa e procurar na diretoria das maiores empresas de informática da atualidade ou entre os mestres da informática de hoje pode ter certeza que usaram, em sua infância ou juventude um micro da linha Sinclair e nove entre dez deles vão dizer que começaram a se interessar pela informática por conta deste computador.

Já o Tio Clive vai muito bem, obrigado, ao vender sua empresa assinou um contrato onde ficou proibido de criar outros micros, mas não fica impedido de criar, sendo assim lida ainda com novidades, gosta especialmente de criar robots, como sempre ele está a frente dos demais e recebeu o título de Sir, uma das maiores honrarias de seu país, justamente pela contribuição que deu a humanidade com sua criação.

Em nome de todos os brasileiros – eu inclusive - que foram iniciados na informática por este fantástico computador agradeço a Sir Clive Sinclair, que carinhosamente chamei de tio nestes parágrafos e ao mesmo tempo peço desculpas por não terem adequadamente pago o que seu feito valia.

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